Sobre o Blog e o Disco

Capa do disco Maria Alice Vergueiro canta Brecht

Acabei de gravar um disco. Na verdade, acabei de gravar 21 canções de Brecht e Weill, com direção artística de meu amigo Heron Coelho, e o violão mágico de Alessandro Penezzi (com pianos de Demian Pinto e Carlos Blauth). Este trabalho ainda não virou disco por conta das dificuldades comuns nesse meio: direitos autorais e grana pra pagar a tiragem. Cantei essas canções por mais de três décadas, textos de Brecht com música de Weill, Eisler (pra lá de 1930…), e versões dos meus amigos Luiz Roberto Galízia, Tatiana Belinky, a Catherine Hirsh, o Cacá Rosset. Inclusive, há algumas faixas extras, no qual canto com o pianista Mário Laginha, em gravações antigas, ainda inéditas, no final da década de 70 (ele tinha 18 anos…).

E só agora, no século XXI, tive a chance de entrar num estúdio e gravar o que eu queria, e do jeito que queria. Mas, e os direitos? Como ficam os direitos autorais? O Brecht deixou algum netinho por aí? Será que o telefone vai tocar, de repente, e alguém vai dizer: “O Dona Marialice, a senhora não pode cantar esse negócio aí não, inda mais sem pagar direito. Teje Presa!!!”. Mas como, já está tudo pronto? Será que eu posso gravar ao menos numa fitinha, um cedezinho pirata, e dar escondido prum amigo ouvir em casa? Ninguém vai saber, vai ser tudo às escuras, obtuso, obsceno, coisa de bastidor…ah, deixa, vai, por favor, por favor, por favor, senhor DEUS Dará..!!! É… mas e se de repente essa fitinha parar na internet, daí todo mundo vai poder ouvir em casa e copiar pra outros amigos, passar de mão em mão, de ouvido em ouvido, ou seja: um horror…essa orgia, essa promiscuidade, esse “ninguém é de ninguém” é um horror…!

Ahhhhhhh, então é isso…agora eu tô entendo essa tal de internet (será que o Roberto Carlos também tá sabendo?). É irrefreável, incontrolável, irreversível. Colocou na roda, ninguém mais segura. Nessa primeira prosa a gente bem que podia ouvir aquele “lírio do inferno”, do Brecht com o Weil, que eu já gravei (e canto há quatrocentos anos)… tá prontinha, é só pôr pra rodar…Mas a gente deve ouvir com fone, ou com o volume bem baixinho, pra não dar na vista (mas dar no ouvido!!!), afinal…

A que ponto chegááááámos…

“Ei, Joe, toque aquela velha canção…”